quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SABE QUEM EU SOU?

Bom dia, boa tarde e boa noite meus queridos
"Você sabe com quem tá falando? Você sabe quem é meu pai? Você sabe quem sou eu?". E não é que a gente ainda ouve frases desse tipo? Gente, o que tem na cabeça uma pessoa dessa?
O cúmulo de todos os absurdos que já vi foi um "juiz" (não meninas, de futebol é árbitro) que ficou tão indignado porque o porteiro do prédio o chamou de "você", que decidiu entrar na justiça para que fosse tratado por "Doutor". Simmmm amigos, limpem os olhos, respirem fundo, tomem um gole d´agua, que vou falar de novo: O "JUIZ" ENTROU NA JUSTIÇA CONTRA O CONDOMÍNIO O QUAL HABITA (animais habitam) REQUERENDO O DIREITO DE SER CHAMADO APENAS DE "DOUTORRRRR" PELO PORTEIRO E DEMAIS FUNCIONÁRIOS DO PRÉDIO.
Meuuuuuu, pelo amor de Deus!!! Será que esse ridículo rapaz é diferente da gente? Será que ele não faz xixi e cocô tão quanto o porteiro? E o mais importante, será que ele sabe o que é ser DOUTOR? Pois bem amigos, observem a sentença do Excelentíssimo Juiz que julgou o caso. Notem a boa redação, suscinta e bem argumentada, até solidária com o coitadinho do juiz ofendido: (colocarei em negrito as partes que achei mais absurdas)
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – COMARCA DE NITERÓI – NONA VARA CÍVEL
Processo n° 2005.002.003424- 4
S E N T E N Ç A
Cuidam-se os autos de ação de obrigação de fazer manejada por ANTONIO MARREIROS DA SILVA MELO NETO contra o CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO LUÍZA VILLAGE e JEANETTE GRANATO, alegando o autor fatos precedentes ocorridos no interior do prédio que o levaram a pedir que fosse tratado formalmente de "senhor".
Disse o requerente que sofreu danos, e que esperava a procedência do pedido inicial para dar a ele autor e suas visitas o tratamento de ‘ Doutor, senhor" "Doutora, senhora", sob pena de multa diária a ser fixada judicialmente, bem como requereu a condenação dos réus em dano moral não inferior a 100 salários mínimos. (…)
DECIDO: "O problema do fundamento de um direito apresenta-se diferentemente conforme se trate de buscar o fundamento de um direito que se tem ou de um direito que se gostaria de ter." (Noberto Bobbio, in "A Era dos Direitos", Editora Campus, pg. 15). Trata-se o autor de Juiz digno, merecendo todo o respeito deste sentenciante e de todas as demais pessoas da sociedade, não se justificando tamanha publicidade que tomou este processo.
Agiu o requerente como jurisdicionado, na crença de seu direito. Plausível sua conduta, na medida em que atribuiu ao Estado a solução do conflito. Não deseja o ilustre Juiz tola bajulice, nem esta ação pode ter conotação de incompreensível futilidade. O cerne do inconformismo é de cunho eminentemente subjetivo, e ninguém, a não ser o próprio autor, sente tal dor, e este sentenciante bem compreende o que tanto incomoda o probo Requerente.
Está claro que não quer, nem nunca quis o autor, impor medo de autoridade
"Doutor" não é forma de tratamento, e sim título acadêmico utilizado apenas quando se apresenta tese a uma banca e esta a julga merecedora de um doutoramento. Emprega-se apenas às pessoas que tenham tal grau, e mesmo assim no meio universitário. Constitui-se mera tradição referir-se a outras pessoas de ‘doutor’, sem o ser, e fora do meio acadêmico.
Daí a expressão doutor honoris causa – para a honra -, que se trata de título conferido por uma universidade à guisa e homenagem a determinada pessoa, sem submetê-la a exame.
Por outro lado, vale lembrar que "professor" e "mestre" são títulos exclusivos dos que se dedicam ao magistério, após concluído o curso de mestrado. Embora a expressão "senhor" confira a desejada formalidade às comunicações – não é pronome -, e possa até o autor aspirar distanciamento em relação a qualquer pessoa, afastando intimidades, não existe regra legal que imponha obrigação ao empregado do condomínio a ele assim se referir.
O empregado que se refere ao autor por "você", pode estar sendo cortês, posto que "você" não é pronome depreciativo. Isso é formalidade, decorrente do estilo de fala, sem quebra de hierarquia ou incidência de insubordinação. Fala-se segundo sua classe social. O brasileiro tem tendência na variedade coloquial relaxada, em especial a classe "semi-culta" , que sequer se importa com isso.
Na verdade "você" é variante – contração da alocução – do tratamento respeitoso "Vossa Mercê". Em qualquer lugar desse país, é usual as pessoas serem chamadas de "seu" ou "dona", e isso é tratamento formal. Por isso que se diz que a alternância de "você" e "senhor" traduz-se numa questão sociolingüística, de difícil equação num país como o Brasil de várias influências regionais.
Ao Judiciário não compete decidir sobre a relação de educação, etiqueta, cortesia ou coisas do gênero, a ser estabelecida entre o empregado do condomínio e o condômino, posto que isso é tema interna corpore daquela própria comunidade.
Isto posto, por estar convicto de que inexiste direito a ser agasalhado, mesmo que lamentando o incômodo pessoal experimentado pelo ilustre autor, julgo improcedente o pedido inicial, condenando o postulante no pagamento de custas e honorários de 10% sobre o valor da causa. P.R.I. Niterói, 2 de maio de 2005.
ALEXANDRE EDUARDO SCISINIO
Juiz de Direito
Fala sério, gente boa, esse excelentinho juiz não deve ter o que fazer. Imaginem o que ele ensina para os filhos. A justiça tão lenta que temos e o cara ainda vai encher a cabeça dos juizes com essas palhaçadas. Na sentença o Juiz sentenciante disse que o "coitado" em nenhum momento quis impor medo de autoridade. Ahhhhhh tá!!!!! Ele quis o que então? Demonstrar a humildade dele que veio de berço?
O problema, caros amigos, é que a sociedade brasileira, cada vez mais, tem dado importância ao status social que o indivíduo ocupa. Prova disso é a proliferação da chamada carteirada: pessoas, valendo-se de suas "qualidades", exigem tratamento diferenciado, almejam obter vantagens às quais não têm direito. Tais vantagens são das mais diversas: ser tratado por determinados vocativos; ter atendimento diferenciado, não enfrentando filas; poder fumar em locais proibidos; não ser autuado por infringir normas de trânsito; não pagar o valor de ingresso em determinados locais; etc. Essas pessoas, que desejam obter tais benefícios, vantagens ou privilégios, se valem de suas condições pessoais: ser conhecido na mídia, ser filho de político, ter prestígio no meio social, ser agente público, policial, promotor, juiz, etc.
Manosss, outro dia eu li que um ex-BBB lançou essa: "Você sabe quem eu sou?" Eu até entendo esse cidadão, porque nem ele deve saber quem ele é. Mas, sabe gente, isso é culpa nossa, quer dizer, nossa não, culpa daqueles que vêem esses tipos no shopping e pedem para tirar fotos, dar autógrafo, começa a se vestir igual. Meu, pra quê? Só porque ele tirou "caquinha" do nariz em rede nacional?
Eu concluí que "Doutor" é aquele que defende tese de doutorado ou o camarada que levanta as 4h da manhã no maior frio, pega trem, metrô, faz baldiação na sé, aguenta o patrão dando bronca, rala que nem condenado e depois faz o mesmo trajeto pra casa. Chegando em casa tem que se virar pra colocar comida para a família, já pensando em dormir para no outro dia acordar as 4h da manhã. Esses são os Doutores!!! O restante, na minha opinião, não passam de uns PORTEIROS ZÉS!!!
Beijo nas crianças
, ou que lhe dediquem cumprimento laudatório, posto que é homem de notada grandeza e virtude. Entretanto, entendo que não lhe assiste razão jurídica na pretensão deduzida.

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